sábado, 26 de outubro de 2013
Vira-tempo
Rabiscamos um esboço
Teu nariz feito de giz
Traçamos linhas retorcidas
E por cores escondidas
Encontramos teu sorriso
Esbanjando sabor
Desenhamos tua voz
Sem cor
Sem atroz
Traduzi teu olhar
E idioma mais bonito jamais se ouviu falar
Pincelamos tuas penas, apenas
Pontilhamos nossa sina
Rimos nossas rimas
Colorindo as cenas
Duas, três, dezenas! Centenas!
Faz-de-conta mas não conta
Que de afagos e gracejos é feita nossa dança
Surpreenda-se mas não prenda-se
A liberdades mal-ditas
A invenções revestidas
As nossas noites mal-dormidas...
Reescrevemos as regras
Medimos as tréguas
Ditamos as léguas
Por ruas desertas
Encontrei-a na esquina do acaso
Com a rua 16
E dali canção se fez...
Para brandar nossa alegria
Rabiscamos estrelas
Para pousar nosso pesar
Sentamos sobre as mesas
Ciframos os risos
Pintamos os rios
Ficamos perdidos
Numa rua qualquer
Dormimos sentados
Deitados de lado
E num minuto passado
Se fez mulher
Nas manhãs de verão era lua
Nas de inverno, sol
Por tantas outras, meu amado rouxinol
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Pingos de papel
No recado cada canto encanta um cado
Escorregam pelas linhas palavras não ditas
Em fila indiana: frases pe(r)didas...
Pontos e espaços, cada um pro seu lado!
Metrificação padece na parede do quarto
Estrofes dançam aqui e acolá
Rimas e versos gorjeiam:
perdurará!
Cheiro de tinta ainda respinga
Prosa não extinta por letras vizinhas
Folha velha de branco esculpido
Esconde motivo:
Regendo os pontos
Verbaliza o sorriso...
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Fastígio
Desdizer não é não dizer
E se assim foi, teria deixado de ser
Assemelha-se ao que não foi dito
Lhe digo
Que assim fora se indo
E quem a viu passar?
"Olá, olá, olá"
Calcificou-se num sorriso
Perdido
Escrito
Em seu rosto esculpido
Já não sabe mais dizer
Canta pra não ser
A sombra dum vestígio
Era eminente
Estava impotente
E eu simplesmente
Já não tinha onde ir
Num instante, desverdade
Era som de cidade
Embalada num borrão;
Inóspito este era
Onde prosa está em queda
Abatida por cifrão
Luzes e fumaça
E o que desagrada?
A lembrança desgastada
Batendo no portão
Ergueu-se, demasiado
O inverno, passado
Era solstício de verão