quinta-feira, 26 de junho de 2014

Que a prece
seja sem pressa,
E que tudo que ela ex-
-presse
Faça parte
desse nosso quermesse

"Seja sem pressa!"
Eis minha prece,
E que'sse
quermesse,
seja o que ela expresse

sábado, 21 de junho de 2014

Garota cor-de-jazz

Pelas ruas de Las Vegas
Correndo, se esvai
Em cada curva, cada esquina;
Rotas já não mais
Segura-me pela mão
Diz ser minha
Que a tenho pelo coração
Seguimos, sem direção
Minha Scarlet, de sorriso obsceno
Tão irreal, com seu vestido vermelho,
teus cachos ao vento...
A corrida não termina
Estamos numa nebulosa pedida...
Que seja, não queremos parar!
Garota cor-de-jazz,
leve-me ao seu mundo
Mostre-me as luas que há por lá
Sorri-me, ofegante
Lábios grossos
"Mais adiante"
ela sussurra
Insana, alma vestida de acaso
Placas, mapas...
Nada importa, vamos para qualquer lado!
A corrida não tem fim
Seguro-a firme
A desejo, toda para mim
Seus quadris enlouquecem-me
A quero, é meu verão; aqueça-me!
Um olhar sobre o ombro
Ela sente,
entre ser e estar...
estamos
Cativa-me a cada passo
A cada cena criada
Sem cogitar o estrago
Entramos em nossa cilada...
E a corrida continua
Quando canta-me jazz anos 30
Palavras me são nuas...
Abortemos as sinas!
Ela é verão,
veste outono
Tem em si alma de lua
Afagos são nossa canção
E corrida continua...
Mas tudo muda!
O chão balança,
estremece,
ela avança,
sorrindo
"Garota louca"
penso comigo
"Por onde esteve?"
Sinto o suor em seus dedos,
teu sorriso travesso
Me espiando pelo ombro,
seus olhos me encontram,
têm cor de desejo...
Como não amá-la?
Por resposta, anseio
Os tambores rufam!
enquanto a corrida continua
Seria meu coração,
gritando por uma Scarlet nua?
Viramos num beco,
depois subimos,
descemos,
"Assim me perco!"
lhe digo
"Em mim,
querido"
E tudo que posso fazer é sorrir...
Uma mulher,
quatro estações,
Tambores,
tremores,
dois corações
E não se cansa!
Ela aperta o passo,
Me agarro ao "posso",
Então, alcança
Topo duma colina,
cessam os tambores,
a noite se faz cortina
Ela se vira,
Meu sorriso se pinta
Respiramos, ofegantes
"Tudo está distante"
ela conta,
e a puxo, num instante
"Meu corpo te chama"
Nos encaramos,
minhas mãos laçam tua cintura
Mordisca-me o queixo,
sinto tua quentura,
peito contra peito
"Você é louca", revelo,
meu nariz passeia por seu pescoço
Sinto-a sorrir,
"Sou apenas um esboço"
Morde-me a jugular,
"Onde vamos parar?"
Nossos olhos se encontram,
sorrindo
Nossos lábios se arranham,
pedindo;
Concedemos
Abrimos um contato
Nos perdemos,
mãos, afagos,
por todos os lados
Nossas bocas dançam,
numa canção chamada desejo,
nossas linguas,
lentamente festejam...
Sinto seu calor,
seu ardor,
seu cheiro quente
Aos poucos, pendemos,
eloquentes...
A grama macia nos acolhe,
com o frio, suas costas arquejam;
se encolhe,
se arrepia,
O céu, também nú,
nos espia
O vento levou-nos a roupa,
A beijo entre os seios,
sinto o gosto salgado
do suor em minha boca
Arranho-lhe pele acima,
com a barba do queixo,
dando-lhe leves beijos
até reencontrar seus lábios
Ferramentas de acasos...
Suas mãos estão em minhas costas,
seu sorriso também se despiu,
sem vergonha,
se mostra
Cravou-me as unhas,
o mais fundo que conseguiu...
Bocas voltam a dançar,
linguas, a festejar,
A corrida continua,
apenas mudou-se,
É contra a Lua...
"Eu..."
Confesso, antes de tê-la,
Ela arfa, rouca,
Tão quente...
como nunca esteve
Beija-me, sorrindo de lado
"Espero que a manhã jamais chegue"

quarta-feira, 18 de junho de 2014

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Pra-ser, você

Vestindo-se,
o espetáculo aguarda,
Despindo-se
de si,
espetáculo não a guarda
Tanto faz, pouco resta
do ser
Na fresta dum espelho,
busca
"Pra-ser, você"
Já não se reconhece
Maquia-se de sorriso,
falso quermesse:
acolhe o ritmo,
Tanto fez,
tanto faz
que agora
essência já não mais
Então, crê
Procria-se
e não mais vê
Plateia chama
abordam também
os mesmos atos
Com gosto, se engana
Parte, içam as cortinas
Chagas, vítimas do mesmo caso
por todo o lado
Então tudo começa
Ela apresenta
seus falsos risos
Julgam, jogam-lhe as moedas
A sede cresce
Tinta mal respinga
ainda fixada,
esconde aquele rosto de menina
Logo,
todos, cada um
sobem ao palco
Partilhando moedas,
os sorrisos?
Escravos!
Sem trégua
Mas é tão normal,
"falso", julgam
aquele que acha banal
Festejam, gritam, dançam
Sendo o menor de si,
com pouco se encantam
O elenco, embriagado
de não-ser
Conformado,
continua,
o espetáculo perdura
Até que a noite chegue,
pois com ela tudo finda
Traz consigo, chuva
serena, fina
Todos dormem
caídos ao chão
seus risos, forçados,
maquiados,
com a chuva, se vão
Ali, no canto
em meio ao borrão,
nossa menina:
entoando uma voz trêmula,
se arrasta
pintada de escassez
Os sorrisos, borrados
Escravizados;
Que mal lhes fez?
Alcança uma poça,
tintas sem cor
olha-se,
e o que reflete?
Desamor,
vazio
O mundo, agora?
Quisto
O rosto que vê
faz-se incapaz de reconhecer
E ela ousa, pergunta
"Quem és?"
Com sorriso, reflexo responde
em mal-dizer
"Não vê?
Pra-ser, você"

sábado, 7 de junho de 2014

Sem a-grade-ser
à paixão
assim será
És tu, assim, livre
Mas, quer-ida,
seja bem-vida
a ficar.

Re-partimos
nosso amor
sem ter porquê
Outro parto,
cada um pro seu lado...
Parte maior, comigo
ficou você.

Chuvas de Janeiro

O céu, azul-marinho
Estrelas desenhadas com giz
Cenário que pincelamos,
contornados com toques de nariz
Borrado de sorrisos,
transbordo,
sou rios!
E tu, pula, abordo
com risos
Mergulha em mim,
sinta, há tanto de ti,
aqui,
como ficou assim?
Cócegas, os lábios anseiam
Deslizes, a pele deseja
Trêmulos, os olhos ceiam
os teus
e o sorriso festeja
Talvez esteja
conhecendo tuas cores,
e perde-se em si,
em ti
Só pra poder entender...
rufam-me os tambores!
Até onde o real
faz parte de você?
Uma aquarela no peito se agita,
sou todo tinta,
ela dança,
canta,
respinga!
E me pingo em ti,
até suceder
Devagar, há de render
abraços por aí...
Duas estações...
Talvez uma nova
Renova!
Sereníssima, tua'lma me grita,
me chama, convida
"Me explora!"
Então mergulhe
nos desatinos do meu peito
Enquanto eu, com os lábios,
tracejo-lhe
sorrisos sem jeito...
Há tanto a dizer,
a fazer
Mas vamos sentir!
Tinta há de durar
O vento irá barganha-la
se pensar em acabar
E vamos pincelar
Nosso acaso com sinas!
Revela, céu
Reflete também
Sou todo teu,
aqui, no sentir
E além...

segunda-feira, 2 de junho de 2014