segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Barcos de papel


Pudera eu!
Fazer das cartas tuas
barquinhos de papel
Vamos navegar...
por esse imenso céu!
azul
Como folhas de Maio
em busca dum vestígio
dos sorrisos teus...
Balaio
lacaio!
Faz-se abraço seu
Tão frio,
aqui,
nas águas do vento
Capitão!
imploro frêmito...
Então vem-nos eles
Cobrindo o azul com o negro
costumeiro
Cabelos feito manto,
tu cobres, com eles
o mundo inteiro?
Pinta-me, assim, a noite
Derradeira confissão
Seria este
um convite
quisto
de antemão?
Icem as velas!
Vamos vê-la!
E fazemos piruetas
pela velha ruazinha
Se bem me lembro
sempre esqueço
daquela esquina...
Sim!
Onde esbarrei-lhe o ombro
E que tombo!
"Como era ela?"
Curioso, indaga-me o vento
"És-me passageiro,
então conte, assim, de passagem
por um momento..."
Mas ela
não era!
Ainda é
e há de ser
Aquele narizinho...
Ah, Anel de Saturno...
Nenhum sorriso ousa se esconder
ao ver!
O lábio inferior
travesso,
me borra de desejos,
a faz cigana!
com sua leve curvatura
para baixo
desperta-me os lados
mais sacanas...
Os olhos!
espelhos
voltados para dentro
o universo feneceu...
Mas oras, vento!
Tu adormeceu...
E ainda estamos
na mesma ruazinha
no mesmo barquinho
feito de papel
As cartas tuas
tão minhas
Navegando pela céu...
Quem diria!
E quem dirá...
Que o amor nos 
conheceu
Baixem as velas!
Desmontem o barquinho
Quero descer,
ler tudo de novo
talvez achar o caminho...
"Mas senhor, e o vento?"
Oras! Nos trouxe ate aqui
deixem-no descansar
por um momento
Aquietou-se tudo
na nossa ruazinha
onde me perduro...
e lembra,
daquela esquina?
Tu foi menina
Menino, eu
Hoje, que somos?
Crianças...
que o tempo esqueceu?