sábado, 26 de julho de 2014

- Não existo,
insisto!
- Como não, se está aqui?
- Este lugar é quisto.
- Então reside no existir.
- Não sou, em mim não há o ser!
- Então como ouço o que está a dizer?
- Não existo,
menino!
- Mas escuto-lhe,
não faz sentido!
- Exato! Por isto.
- Digo que existe,
diz-me que não.
Não faz sentido!
- Por isto,
oras!
Sou a razão.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Basta um passo
para o posso
então pule,
mergulhe!
No poço
nosso

Pintar galáxias

Haja tinta!
E haverá!
A verá,
vamos sê-la
E haja cela
pra nos prender
Vamos aprender
a transbordar
Acordar
acordando
o mundo inteiro!
A cor dando
ao todo
dum jeito
em que gesto,
seja céu
Meu sorriso,
seja teu
Ah, essa loucura
pintada aquarela
Quero ver a moça,
e hei de vê-la,
é ela!

terça-feira, 22 de julho de 2014

Chagas

Caipora já vem indo
Dispersos, os não bem-
vindos
Caça-dores
Homens da caça,
sem mensurar o ato
Adentraram no mistério:
A mata
Vez que, vestidos de morte,
será seu cemitério
Descompromissados
com a vida alheia
Logo há de colher
aquilo que semeia
Caipora está por bem perto
Dos homens, os olhos quase saltam;
A viram, de certo
Escondida em odores vespertinos
Camuflada no canto
dos grilos
Toda a mata se agita,
pesados olhares sobre eles
O vento assovia
Intimando que a terra deixem
Folhas e galhos arranham-lhes a pele
Com arrepios articulados,
o medo lhes despe
E Caipora logo afora,
ouve-se o som de seus passos
anunciados pelas folhas do chão
É noite, porém
Escuro por todo o lado
Erguem suas armas
como se pudessem se salvar
As mãos? Trêmulas
Mal conseguem segurar
Então rufam os tambores
Lá, ali, cá
Batidas ritmadas,
acolá
Correm os caçadores
Por suas vidas
Por sua vinda,
Por sua ida
Caipora gargalha, deixando-os ir
Uma vez fora, todos eles
As arvores reverberam
"Mal-vindos são aqui"

Cafajeste,
num gesto
se faz traidor
Trai a dor
Com a'legria
Faz-se dia
alegoria
E se faz ser
sua moradia

Mas falta tanto,
tonto!

domingo, 20 de julho de 2014

July é tão timida!
pequena menina,
tanto é
que tem vergonha
de mostrar
a timidez
Mal sabem
como é risonha!
Um beijo
na bochecha
e sorriso assim se fez
Sem saber
encanta o mundo
Sem correr
per-
-corre tudo!
E numa fala
ela embala
tudo em sua voz
Vai-se tudo,
que mal nos quer
Vai-se o atroz!
Quando abraça,
porém,
é despida de vergonha
July aperta!
E nos faz fronha,
pena,
travesseiro!
Leves, por inteiro.

(July,
não fique brava
comigo.
Irmã,
te amo!
E lhe digo:
Feliz dia do amigo!)

sábado, 19 de julho de 2014

Ana tem pulso
em tudo que faz
Principalmente
em risos
im-
-pulsivos!

Façamos das pontas
dos dedos
giz de cera!
(De giz será)
E voemos ao céu,
e ao que ele almeja
Sem medo, no manto azul-marinho
vamos rabiscar
Num traço, num esboço
Num ar-riscar!
Borrando tudo
de azevinho!

sexta-feira, 18 de julho de 2014

"Coragem
é agir
com o coração"
Coragem,
cores agem!
Vai luz, vai câmera, vai bicicleta!
Cor,
-acão!

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Cenas

Os dedilhados
são caricias
naquele velho banjo
de corda solta
Com riso frouxo,
ela dança
o frio, quisto,
lhe poupa
De canto largado,
despreocupado,
para si,
perdida, se acha
em seu mundo
"Aqui!"
Toda sorrir,
fazendo curvas
para não se conter
Dos olhos castanhos
aos cabelos prantos,
fazendo-se tecer
Em teu ser
habita
Tendo o hábito
de assoviar
enquanto caminha
tranquila
nesse bordar
Finos dedos
afinam
o toque
Ela ri, esnobe
Os leves acordes
despertam
a calma
E na fala mansa
há calma
Ah, ela...
traz chuva, enxuga
a alma
Mulher, com alma de menina
quando convém
Mas nem liga,
para esses versos
Sequer escuta,
encontra-se perdida,
pedida,
nas próprias curvas
de sorrisos
Banha-se em rios
rasos,
Águas do acaso
Lá está,
vestida do sol
Assoviando,
vai-se indo
Chinelos,
camisa comprida,
cor de rouxinol

sábado, 12 de julho de 2014

Ana das folhas

Ana corria
e cor-ria,
pelas curvas
da esquina,
curvando os lábios,
num sorriso,
num só riso
Com Lila,
sua folha
Ana, pequena moça
sempre contagia
não há escolha!
A cada escorregão
um sorriso se pinta
voando, com os pés no chão
Lá vai Ana
Vai, menina!

Des-conto

Descontar
não é não contar
e se conto
um tanto,
tanto conto
que desconto
Ah, esse desencanto...
que também não é
não encantar
Mas se canta
tantos contos
tem a cor,
de côr,
o gorjear?

Devolvo, assim, a palavra "Descontar" que Ana das folhas me emprestou.
Brigadu, Ana!

terça-feira, 8 de julho de 2014

Bem-querer

Os dedos estavam gelados, o frio os queimava, como se, de alguma forma, pudessem servir de lenha para aquecer as mãos. As esfregou, e então o roçar das palmas eram como labaredas, pequenas mas suficientes para aquecer. Sentado ali, na janela do segundo andar, via distante a manhã chegando. O velho galo da casa vizinha cantou, um canto rouco e alto, como de quem também acaba de acordar. Uma luz se acendeu numa casa furta-cor que ficava na rua ao lado, mas ele olhava apenas para o céu, esperando vê-la. Alguns astros piscavam num cintilar errante, "asteroides" pensou. Algumas nuvens tomavam seu café-da-manhã por ali, brancas, enquanto caminhavam. Sentiram estarem sendo vistas, ficaram alaranjadas e se apressaram, pegando carona no vento.
Ele piscou, olhou para dentro e lá estava, tão distante com seus anéis, suas tantas luas, com sua Daphine. Ela caminhava pela cozinha, com seu vestido branco, descalça. Caminhava como numa dança, seus olhos negros como um céu sem estrelas pareciam sorrir, mergulhando em tudo e em si. A leve curva para baixo no lábio inferior ainda era a mesma, assim como as dos cantos da boca. Mas os cabelos haviam crescido, os que antes chegavam nos ombros agora faziam cócegas no meio de suas costas e pela frente tingiam a testa com frestas escuras ao vento.
Estava distante, num outro planeta e não o via mas ela dizia algo, com todos os gestos, toda a dança serena e ao mesmo tempo aquele jeito de menina largada, de riso frouxo e pulso firme. Os dedos passeavam pelos móveis, imóveis. Então ela sorriu, como antes. Como sorria quando sua irmã Ana lhe afagava o topo da cabeça. Ela caminhou, ainda com os dentes despidos dos lábios em direção a janela e debruçou-se, riscando o céu com um olhar. Sem muito esforço, subiu, pisando no velho sofá vermelho e empoeirado. Olhou para as mãos dele, escorregando a sua pela cortina cor de mel rasgada nas pontas e fechou os olhos. Ele segurou a cortina, como se de alguma forma pudesse torná-la Tévere, e levá-lo até aquele planeta qualquer, fechando os olhos depois.
Sentiu a cortina roçando-lhe o nariz, fazendo cócegas e pintando nele um leve sorriso, não de tristeza, não de felicidade. Não precisava abrir os olhos, sabia que ela tinha ido.

Lórien

Seus pequenos pés
cortejavam a terra
Esta, molhada pelo orvalho,
sorria, serena
Vestia um vestido de neblina matutina
Caminhava quase numa dança,
colina acima
O olhar vagava ao redor,
sem destino,
a cor?
claro tom de desatino
O sorriso era o próprio vento,
estendia-se aqui,
acolá,
para não ter que se conter
permitiu-se ser,
fazendo curvas sem parar
Os dedos afagavam as folhas,
não tinham escolhas
e ela era todo riso
sentia cócegas,
sua voz tinha cor de rio
Galhos roçavam-lhe a pele
O que sentia?
Que o fechar de olhos revele
Suas próprias pegadas a seguiam
E se guiam,
como se perder?
Sereníssima,
a chuva a chama
sem precisar dizer porquê
E assim é vista
ou sentida,
como diria a menina,
todas as manhãs
É possível vê-la
e sem vela
Em sua eterna busca
Seu eterno achado
"Ei, moça serena
Deixe-me sentir
esse teu beijo de orvalho..."

sábado, 5 de julho de 2014

Arte de Janesca Pereira, com um escrito meu.

Volto a agradecê-la, ficou incrível, Nesca! Muito obrigado, adorei o tom envolta das letras que, não propositalmente (como você mesma disse) deram a ideia de fumaça, neblina ou luz, brilho.
O jeito como as palavras parecem escorrer, como se orvalho as tivesse dado um banho. E aquela linha curva no canto inferior direito, ah, ela! Me parece tanto. Parte de uma chama, fumaça.
Mas gosto de pensar que é um sorriso que não coube em si e teve que dar curvas para não ter que se conter.
Obrigado, Janesca.


quarta-feira, 2 de julho de 2014

- Faltou luz! Venha, vamos ficar à luz de velas.
- Temos estrelas,
fiquemos à luz de vê-las...